
Olá, professoras e professores
Este material foi produzido pelo Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (SISMMAC), com todo o cuidado, buscando valorizar identidades e evitar que crianças se sintam excluídas ou continuem sofrendo violências simbólicas às quais têm sido submetidas ao longo da história.
Entendemos que um sindicato docente, por sua natureza de representação e organização, deve ser também um espaço privilegiado da formação de professoras e professores e discussões conceituais e curriculares.
Apesar de ser a capital com o maior número de pessoas negras da região sul do Brasil – cerca de 24% da população, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2017 – Curitiba ainda é uma cidade marcada pela segregação e desigualdade racial que insiste em negar a cultura afrodescendente como parte de sua constituição.
Esperamos que esse material seja compartilhado na sua unidade escolar e circule entre profissionais e estudantes. Estamos abertos para sugestões de novos materiais que possam ser produzidos no futuro.
“Numa sociedade racista
não basta não ser racista
é necessário ser antirracista.”
Angela Davis
Iniciamos a abertura da “Coleção Potências e Resistências: (Re)conhecendo personalidades negras e indígenas”, elaborada pelo Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (SISMMAC), com o trecho da autora Angela Davis, com o intuito de enfatizar que o trabalho com a educação das relações étnico-raciais precisa ser compreendido e assumido enquanto um compromisso e responsabilidade de todos/as docentes, gestores/as e demais profissionais da área da educação.
Nessa direção, conforme os estudos de Nilma Lino Gomes (2012), torna-se fundamental reconhecer que a raça é uma categoria social estrutural e estruturante das relações no Brasil, sendo o mito da democracia racial (CARNEIRO, 2005; MUNANGA, 2008), as assimetrias e hierarquias raciais (PAIXÃO, 2013; SILVA, 2012), a reprodução e manutenção dos privilégios da população branca (SILVA, 2012), entre outros aspectos, algumas das marcas que perpassam a constituição da sociedade brasileira. Tais marcas influenciam no acesso aos bens materiais e simbólicos e atuam nas mais diversas esferas e espaços, incluindo o ambiente educacional. Assim sendo, é primordial que as unidades de Educação Infantil e escolas do Ensino Fundamental realizem ações que busquem contemplar uma educação antirracista.
Mas, afinal, o que significa abordar essa temática na Educação Básica? Com base em estudos realizados por pesquisadores/as da área, enfatizamos que o trabalho com a educação das relações étnico-raciais abarca:
Os aspectos mencionados acima apontam caminhos para a realização de propostas pedagógicas que implementem as Leis 10639/03 e 11645/08, para além de trabalhos pontuais em datas específicas e, sim, inserindo-as enquanto conteúdos que integram o currículo da educação básica.
Seguindo essa perspectiva, cabe enfatizar a importância de participar de momentos formativos que se dediquem a aprofundar a temática, além de agregar a sua prática pedagógica às orientações dispostas nos seguintes documentos: Diretrizes Curriculares Nacionais para educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana (2004), Orientações e ações para educação das relações étnico-raciais (2006) e o Plano Nacional de implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana (2009).
Ao conhecer tais materiais, é possível constatar que o trabalho com a educação das relações étnico-raciais exige uma mudança de postura, a qual envolve a ruptura dos ciclos de privilégios de uma parcela da população em detrimento de outras, combater as desigualdades e o racismo, compreender que as diferenças não podem ser tidas como sinônimos de inferioridades, bem como ampliar os referenciais epistemológicos.
Nessa direção, a apresentação de personalidades negras enquanto potências que constroem a nossa sociedade configura-se como uma das possibilidades para o desenvolvimento de ações que visem uma educação das relações étnico-raciais.
Assim, almejamos que as trajetórias, histórias e experiências de André Rebouças, Enedina Alves, Itamar Assunção, Laura Santos, Lélia Gonzalez, Maria Nicolas e Milton Santos possam impulsionar a realização de práticas pedagógicas cotidianas que (re)conheçam, respeitem, valorizem e potencializem os conhecimentos da história e cultura africana e afro-brasileira em todas as unidades da rede municipal de ensino de Curitiba.
Thaís Carvalho
Docente da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás
Coordenadora do Coletivo Geninhas em Movimento (UFMG)
REFERÊNCIAS
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Lei 10639/03. Brasília: CNE, 2003.
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Africana e Afro Brasileira. Brasília: MEC, 2004.
BRASIL. Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais. Brasília: SECAD, 2006.
BRASIL. Ministério da Educação. Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro Brasileira e Africana. Brasília: MEC, 2009.
CARNEIRO, S. A. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. 2005. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2005.
GOMES, Nilma Lino. Movimento Negro e Educação: Ressignificando e Politizando a Raça. Educ. Soc., Campinas, v. 33, n. 120, p. 727-744, jul.-set. 2012.
MUNANGA. Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008.
PAIXÃO, Marcelo. 500 anos de solidão: Estudos sobre desigualdades raciais no Brasil. Curitiba: Appris, 2013.
SILVA, Paulo Vinícius Baptista da. O Silêncio como Estratégia Ideológica no Discurso Racista Brasileiro. Currículo sem Fronteiras, v.12, n.1, p. 110-129, jan/abr. 2012.
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