
SISMMAC – Coletivo Étnico-Racial
RESPONSÁVEIS
Prof. Me. Sandro Luis Fernandes (41) 98824-2684
Profª Me. Vanessa Ascenção Monteiro (41) 99640-2702
JUSTIFICATIVA
Considerando as várias tentativas de invisibilização da presença negra em Curitiba, esse projeto visa apresentar aos professores, uma perspectiva afrocentrada da história de Curitiba, desde o século XVIII. Tendo como base pesquisas recentes, desde o começo do século XXI, principalmente do departamento de história da UFPR e Fundação Cultural de Curitiba. Organizado pelo Sindicato do Magistério Municipal de Curitiba, o projeto busca romper com narrativas tradicionais, proporcionando uma visão mais inclusiva e representativa da história local. Desde 2022, o sindicato, por meio de seu coletivo étnico-racial, tem promovido discussões e formações que destacam a representatividade negra e valorizam sua influência cultural, social e econômica.
Como parte das atividades, será realizado um percurso pelo centro de Curitiba, envolvendo visitas a espaços que evidenciam a importância histórica e atual da presença negra no desenvolvimento social, econômico e cultural da cidade.
O percurso possibilita evidenciar a afrocentricidade como um modo de pensamento e perspectiva que enxerga os africanos como sujeitos ativos, influenciando sua própria representação cultural e agindo de acordo com seus interesses humanos. Essa abordagem não se baseia na ideia biológica de raça, mas sim na identidade e na visão de mundo das pessoas. O paradigma afrocêntrico se caracteriza pela centralidade da comunidade, respeito à tradição, espiritualidade elevada, conexão com a natureza, a natureza social da identidade individual, a veneração dos ancestrais e a unidade do ser. No método afrocêntrico é importante refletir a experiência do povo afro-brasileiro, revelando aspectos como antologia, axiologia, cosmologia e estética, integrando os princípios físicos e espirituais em sua dinâmica.
A atividade propicia reflexão coletiva a respeito da ideia de pertencimento e quanto isso é controverso na vida de algumas pessoas. Além dos laços com o local, trata‐se também de memórias familiar/geracional e de local de família, ou melhor, conforme Assmann (2011) da ausência delas. Estas indagações são propostas ou surgem estimuladas pelo percurso. E ainda segundo Assmann, essas memórias de locais, sejam elas construídas ou apagadas, podem ser classificadas: memórias que estão num local (Sociedade Beneficente 13 de Maio e Chafariz da Praça Zacarias, por exemplo), memórias criadas de local social (Rua XV de novembro e os carnavais da Escola de samba Colorado); memórias de locais sagrados (Praça Tiradentes e Igreja do Rosário); locais de memórias exemplares (Sociedade Protetora dos Operários e Sociedade 13 de Maio); locais de memória traumática (Pelourinho); locais de memória honorífica (placa da praça Santos Andrade – Memorial da Abolição; estátuas da Enedina e Emerenciana; Estátuas do Homem e mulher nua – praça dezenove de Dezembro – fenótipo negro); memórias de ruínas (Ruinas de São Francisco e Sociedade Protetora dos Operários); etc.
“o que dota determinados locais de uma força de memória especial é, antes de tudo, sua ligação fixa e duradoura com histórias de famílias” (ASSMANN, 2011, p. 320).
Nesse sentido está em evidência o desenvolvimento de uma metodologia de ensino com respaldo da lei 10.639/2003, com ênfase em uma “abordagem pedagógica afro-brasileira”. Uma educação referenciada na cultura africana para descolonizar a escola e inserir elementos africanos, construindo assim uma educação afrorreferenciada que promova a identificação com a herança africana por parte dos professores, para que todos possam se conectar com as manifestações africanas. Isso demonstra a busca pelo reconhecimento da identidade afro como base para uma educação que se propõe a ser referenciada na cultura afro-brasileira e na valorização das suas manifestações.
Na atual conjuntura, levando em consideração os 21 anos da lei 10639, bem como as diversas manifestações racistas em Curitiba, inclusive casos de racismo na Justiça e a demanda crescente do Centro de Referência Afro Enedina Alves Marques (CREAFO), é fundamental exaltar a negritude curitibana como uma das ações antirracistas que podem ser desenvolvidas por cidadãos moradores de Curitiba. Por isso reinserir a trajetória dos negros e negras na construção da Curitiba é um dos pilares desse projeto.
Além disso, é oportuno, ainda como estratégia de combate ao racismo denunciar as estratégias de apagamento dos negros da história da cidade e do estado pelo movimento Paranista e de alguns intelectuais, como Romário Martins e Wilson Martins. Para isso no trajeto, apontar referências de aprofundamento da negritude curitibana: Joseli Maria Nunes Mendonça, Ivo Pereira de Queiroz, Ana Crhistina Vanali, Brenda Maria L. Santos, Geslline Giovana Braga etc.
OBJETIVO(S)
A PRESENÇA NEGRA EM CURITIBA
Serão pelos menos 15 pontos visitados em aproximadamente 2km de caminhada. Em cada um deles, uma parada de alguns minutos para refletir sobre a importância daquele local para a negritude curitibana.
METODOLOGIA
Duração do percurso no centro de 2h (9h às 11h). O início do percurso será nas Ruínas de São Francisco, praça João Cândido. Percorrendo o centro a partir das Sociedades Protetora dos Operários e 13 de maio. Final do trajeto será na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Benedito. O percurso será orientado com uso de megafone e folder ilustrativo/informativo dos pontos de destaque da negritude curitibana.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O percurso organizado pelo Sindicato do Magistério Municipal de Curitiba representa um passo significativo na valorização da diversidade cultural e na construção de uma educação que respeita as relações étnico-raciais. Ao narrar a história de Curitiba por meio de uma perspectiva afrocentrada, o projeto não só combate o racismo como também promove o respeito e a inclusão de identidades diversas. Esta iniciativa busca inspirar futuras ações pedagógicas que deem visibilidade e valorizem a presença negra em Curitiba, reforçando o compromisso com a memória e a justiça social.
REFERÊNCIAS
ASSMANN, A. Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural. Campinas (SP): Editora da Unicamp, 2011.
BARACHO, Maria Luiza Gonçalves. SUTIL, Marcelo Saldanha (org.) Presença Negra em Curitiba. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 2020.
FABRIS, Pamela Beltramin. Mobilização negra em Curitiba: a formação de redes de solidariedade e a luta por direitos (1888-1910). Curitiba: Editorial Casa, 2023.
FREITAS, João Carlos de. (coord.) Colorado: a primeira escola de samba de Curitiba. Curitiba: Edição do Autor. 2009.
SANTOS, Brenda Maria L. O. dos et al. Dos traços aos trajetos: a Curitiba negra entre os séculos XIX e XX. Boletim da Casa Romário Martins, Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, v. 37, n. 149, nov. 2019.
VANALI, Ana Crhistina; KOMINEK, Andrea Maila Voss; OLIVEIRA, Celso Fernando Claro de (Org.). Os nomes da placa: a história e as histórias do monumento à colônia afro-brasileira de Curitiba. Curitiba: SESC PR, 2021
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