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Violência nas escolas reproduz a desigualdade e violência da sociedade

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Um em cada quatro brasileiros
aponta a falta de segurança e a violência nas escolas como principais problemas
da educação pública no Brasil. O dado da pesquisa realizada pelo Instituto Data
Popular, em 2014, revela um aumento da preocupação com a forma como a violência atinge as escolas.

Entender
como a violência atinge o ambiente escolar exige pensar o tema para além da
escola, reconhecendo que as causas estão relacionadas com a comunidade e a
sociedade em que a escola está inserida.

Essa é a opinião da professora da
Tânia Maria Rechia, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná que há mais de 15
anos estuda o tema da indisciplina e violência escolar. “Os diferentes tipos de
violência que adentram os muros da escola têm relação com as condições do
bairro, como acesso a iluminação, saúde e infraestrutura”, complementa.

Desigualdade é motor da violência

Ao contrário do que se imagina, a
principal causa da criminalidade não está na pobreza em si, mas nas condições
que geram e aprofundam a desigualdade entre ricos e pobres.

Essa desigualdade é mantida e
aprofundada pela estrutura da sociedade, que é dividida entre uma maioria de
trabalhadores e uma minoria proprietária dos meios necessários para a produção
da vida. A existência de um grande contingente de pobres, desempregados ou
subempregados é mantida nesse contexto como um elemento que pressiona os demais
trabalhadores a continuar trabalhando mesmo com salários baixos e condições
precárias.

Para a professora Graziela
Lucchesi da Silva, do Departamento de psicologia da Universidade Federal do
Paraná, entender as origens da violência é condição necessária para que sejam
formuladas propostas coletivas de enfrentamento do problema. “A violência não é
uma característica inerente do homem. Nós é que vivemos em uma sociedade
violenta, que promove e gera a violência”, aponta.

#@cit107@#Graziela explica que a violência apresenta diferentes facetas, como o aumento
da criminalidade, o desrespeito com o outro, o ódio aos que aqueles que pensam de forma diferente, aumento
da violência policial e da segurança armada. Outras formas de violência aparecem de forma velada, como a
fome e a miséria.

Desde 2012, Graziela desenvolve uma pesquisa interinstitucional com outras duas universidades do
Paraná que analisa as contribuições da psicologia escolar para o enfrentamento
da violência na educação básica. “É comum ouvir dizer que a
criança nasce violenta, isso não é verdade. É importante desnaturalizar essa
concepção e entender como a violência é gerada.
Só o atendimento individual, ainda que seja necessário em alguns casos,
não contribui para pensar em ações mais amplas e mais coletivas de enfrentamento”, completa a professora.

A relação entre violência e
desigualdade social fica escancarada quando conferimos a lista das 50 cidades
mais violentas do mundo, segundo pesquisa realizada anualmente pelo Conselho
Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Penal. Nenhuma das cidades
listadas é da Europa. Já a América Latina concentra 41 das 50 cidades, sendo que
21 estão no Brasil. África do Sul, Estados Unidos e Jamaica também são países
que aparecem na lista.

Aumento da repressão é ineficaz no combate da violência

Para combater o aumento da
violência, o poder público aposta principalmente na ampliação do falido e superlotado sistema prisional brasileiro, sem
analisar que a violência e a falta de segurança pública estão relacionadas com
a estrutura desigual e excludente da nossa sociedade.

Nos
últimos 15 anos, o sistema carcerário triplicou de tamanho, chegando a 607.373
detentos em 2014 segundo dados do último Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Essa expansão, entretanto, não trouxe
nenhum reflexo na diminuição da violência.

É neste mesmo sentido que
ressurge na sociedade a proposta de redução da maioridade penal, aprovada em
agosto do ano passado na Câmara dos Deputados. Ao contrário do que argumentam
seus defensores, os jovens têm uma participação pequena na autoria e são a
principal vítima da violência
. Segundo dados da Polícia Civil, adolescentes foram responsáveis por menos de 3% dos homicídios registrados em Curitiba, entre janeiro e agosto de 2014.

A violência atinge especialmente os filhos de trabalhadoras e trabalhadores pobres sem acesso ao básico
para viverem com dignidade. Jovens que pela situação de miséria em que
vivem acabam abandonados nas mãos do crime organizado desde muito cedo. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública,  31.419
jovens entre 15 e 29 anos foram assassinados no Brasil em 2014. Entretanto, a maioria dos adolescentes mortos são negros e pobres. Para cada branco assassinado em 2014, 2,4 negros foram mortos.

A professora Tânia Rechia também
critica a ênfase nas medidas repressivas. “O aumento do policiamento e da repressão não é combinado
com a apresentação de alternativas para esses jovens. É necessário o policial, mas o mais importante é que os jovens tenham oportunidades
ou outros espaços para usar no tempo livre”, defende.

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