O servidor público municipal que precisa marcar um exame ou consulta pelo Instituto Curitiba de Saúde (ICS) passa por um teste de paciência. A espera por uma vaga com algum especialista chega a até quatro meses, isso quando há especialista atendendo pelo ICS. Relatos de servidores municipais são quase um grito de desespero. O ICS já foi um modelo de atendimento, mas hoje são comuns os casos de longa espera assim como ocorre com o SUS.
Isso gera outro problema. O pronto-atendimento (PA) que funciona no centro de Curitiba vive lotado. Na semana passada, por exemplo, o Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (Sismmac) denunciou longas filas e espera no PA. Em média, a espera chegou a duas horas.
“Do jeito como está, vai todo mundo pro pronto-atendimento. Quando haviam mais médicos atendendo nas consultas, não existia isso”, comenta a diretora do Sismmac, Patrícia Morais Resende. “Faltam médicos, isso é claro”, continua. E o problema foi denunciado inúmeras vezes pelo Sismmac e também pelo Sindicato dos Servidores Municipais de Curitiba (Sismuc).
“Faz tempo que apontamos os problemas no ICS, mas há essa inércia da Prefeitura em resolver. O ICS caminha para ser mais um plano de saúde quando deveria ser uma autarquia”, diz Marcos Pereira, representante do Sismuc no conselho do ICS. “Ainda dá tempo de reverter essa situação, mas nós, os servidores, somos apenas um voto no conselho do Instituto, entre sete conselheiros. E a Prefeitura não abre negociação para resolver o ICS”.
Tristeza — A situação do instituto traz tristeza para quem está há mais tempo no serviço público e conheceu os bons tempos do ICS. “Houve um tempo em que o ICS era até melhor que qualquer plano de saúde. Cheguei a fazer três cirurgias em bons hospitais, tratamentos ortopédicos longos. Meu marido operou pelo ICS. Eu tinha orgulho do instituto. Agora, há cada vez menos médicos”, conta uma sevidora que está há 20 anos no serviço público. “Tive que fazer um plano de saúde privado, porque não dá mais. É triste ver um sistema decair dessa forma”, diz, inconformada.
“Em abril, tentei agendar um ortopedista para a minha filha, mas só consegui vaga para julho. Se ela tivesse algum problema sério, teria que esperar. O mesmo aconteceu com o alergologista, marquei em julho uma consulta que só vai acontecer em setembro. O atendimento no ICS já foi muito melhor, hoje em dia está muito demorado”, relata uma professora que trabalha no Bairro Novo.
Futuro do Instituto ainda é incerto
O ICS atende cerca de 75 mil servidores municipais e seus dependentes, além de aposentados. No momento, a situação é de apreensão já que os servidores temem o comprometimento do atendimento médico, odontológico e hospitalar, caso o Instituto, que ficou sob direção fiscal da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), seja fechado ou transformado em um plano de saúde privado, com a elevação dos valores de contribuição.
O ICS foi criado em 1954, mas em 1999 passou a atuar como um serviço social autônomo, de direito privado. Os servidores ligados ao Sismuc e ao Sismmac, desde então já pleiteavam a transformação do ICS em uma autarquia, mas o projeto de lei encaminhado para ser votado na Câmara Municipal em 2010 está parado.
Os servidores são descontados em 3,14% na folha de pagamento. Por isso eles entendem que ajudaram a construir e manter o ICS, e não querem ver o patrimônio perdido. “Tem aqueles servidores que estão para se aposentar, ou já se aposentaram, e contribuíram todos esses anos. Agora bate a insegurança de como será daqui para a frente”, comenta Marcos Pereira, do Sismuc.
“Ainda aguardamos esclarecimentos para saber como vai funcionar o ICS depois da auditoria da ANS. No momento, estamos conversando com os professores para conhecer outras deficiências . A intenção é mobilizar a categoria para pressionar a Prefeitura e melhorar a situação”, diz Patrícia Resende, do sindicato do magistério. Os servidores são unânimes, ninguém quer perder o instituto.