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Imposição de metas e de produtividade provoca adoecimento dos professores

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O Programa de Produtividade e Qualidade (PPQ) que a Prefeitura quer nos impor não é nenhuma “bondade” do prefeito, muito menos uma ideia recente. O PPQ segue os mesmos critérios de outros programas de avaliação de desempenho e cobrança produtividade que estão adoecendo professores pelo Brasil, e até em outros países. Se antes, professores de diferentes redes e níveis de ensino eram pagos para pensar e produzir educação com qualidade, hoje somos pagos para produzir e mostrar resultados – mesmo com péssimas condições para fazer isso.

A produtividade que começou a ser exigida no chão das fábricas no século passado está cada vez mais adentrando os muros das escolas e das universidades. A avaliação de desempenho tem como princípio pagar mais aos professores que produzem mais. Ou seja, impor uma sobrecarga ainda maior de trabalho, sem oferecer em troca qualquer melhora nas condições de trabalho. A cobrança de ter que fazer mais, com os mesmos recursos e estrutura, representa uma precarização do trabalho e afeta a saúde física e mental dos professores.

Como se não bastassem as condições de trabalho precárias, salários ruins e diversos outros problemas que enfrentamos em nosso dia a dia, muitos professores pelo país se sentem ainda mais cobrados e sobrecarregados ao terem que ser avaliados no desempenho individual e da escola para receber benefícios, ou até mesmo para manter o trabalho, em casos de universidades, e entram em depressão.

Essa tendência está relacionada ao fato de que a educação pública no Brasil cumpre, para os políticos e governantes, o papel de produzir dados e estatísticas que possam ser propagandeadas para a população, sem se preocupar fundamentalmente com a qualidade e com a formação de futuras gerações mais críticas e conscientes de seu papel.

Produtividade na educação acaba com a saúde dos professores
Os professores que mais foram atingidos na rede pública do Brasil pela imposição de metas e produtividade até agora estão nas universidades. A partir da década de 1990, com o auge do neoliberalismo no país, a imposição de metas produtivistas e precarização do trabalho atingiram o meio acadêmico como uma bomba. Hoje, já é possível observar as conseqüências dessas mudanças, inclusive, na saúde física e mental dos docentes.

Atualmente, a cultura acadêmica está baseada na lógica mercantil e a excelência não significa alta qualidade, mas sim quantidade de artigos publishs ou apresentados em congressos. Com isso, cresce a naturalização da produtividade, que faz com até os professores que produzam muito se sintam improdutivos. Isso afeta a saúde física e mental dos professores, que começam a lidar com estresse cada vez maior e problemas que antes só eram relacionados a outras profissões.

Uma pesquisa realizada por Izabel Cristina Borsoi, professora do Departamento de Ciências Sociais da UFES, demonstrou que 81,3% dos docentes entrevistados procuraram atendimento médico nos últimos dois anos, sendo 36% por problemas psicoemocionais, como ansiedade e depressão.

Outros 14% queixavam-se de enxaqueca, cistite, crise gástrica e 12,8% apresentavam afecções osteomusculares, como LER/DORT, lombalgias, cervicalgias, hérnias de disco em diferentes regiões da coluna e fibromialgias, entre outras. Em relação à atividade sexual, 41,1% dos homens apontaram mal-estares, desconfortos, cansaço, fadiga, insônia, estresse e dores no corpo.

Adoecimento também aumenta entre professores do ensino básico
Essa também é a realidade verificada entre os professores da educação básica de diversas redes de ensino no Brasil. Apesar de o processo de introdução das avaliações de desempenho ser mais recente nesse nível de ensino – passa a acontecer a partir do final dos anos 1990, principalmente – elas modificam o ritmo e as exigências sobre o trabalho do professor. Além da utilização dos resultados das provas aplicadas aos alunos como critério para julgar o desempenho docente, criam-se também gratificações, como é o caso do PPQ, para aumentar ainda mais a cobrança sobre o professor.

Esse tipo de iniciativa aumenta a sobrecarga e o sofrimento no trabalho porque colocam sobre o professor a responsabilidade individual de resolver problemas educacionais que são sociais e coletivos e que para serem, de fato, resolvidos dependem de maior investimento do estado para garantir melhores condições de trabalho, turmas menores, suporte pedagógico adequado e valorização salarial e profissional. 

Para que a educação de Curitiba melhore em "qualidade e produtividade" – como supostamente quer o PPQ – não basta que a Prefeitura exija mais dos professores que já fazem tudo o que lhes é possível e que, por isso mesmo, produziram nos últimos três anos a maior nota da educação pública do país. Esse tipo de iniciativa reforça a lógica da sobrecarga e do sacrifício pessoal: Se os professores já levam trabalho para casa, devem levar ainda mais; Se já perdem finais de semana preparando atividades e corrigindo provas, ao invés de ficaram com a família, é preciso que se dediquem ainda mais. 

É importante lembrar que nossa categoria já é uma das que mais adoece por conta das características do trabalho e, principalmente, pelos problemas comuns às diversas redes de ensino: falta de condições de trabalho, salas superlotadas e estrutura precária das escolas.

Conforme pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), em 2004, em dez estados brasileiros, 30,4% dos professores e funcionários de escola tiveram ou têm problemas de saúde, sendo que 22,6% necessitam de licenças, afastando-se temporariamente ou definitivamente do trabalho. As principais adoecimentos da nossa profissão são doenças psíquicas e neurológicas, calos nas cordas vocais, problemas cardíacos e de coluna, varizes, irritações e alergias ao giz.

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