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Greve de fome e paralisação expõem intransigência de Piñera com reivindicações de chilenos

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O movimento que pede educação pública, gratuita e de qualidade no Chile hoje chama a atenção do mundo todo. Mas, quando começou há mais de três meses, foi silenciado inclusive pelos meios de comunicação local. A partir desta falta de atenção às demandas apresentadas principalmente pelo movimento estudantil, alguns deles decidiram iniciar uma greve de fome.

Pelo país foram vários os que se dispuseram a interromper completamente sua alimentação para pressionar o governo. Neste momento existem 33, sendo a maioria estudantes secundaristas. Agora, a mídia está dando cobertura diária de alguns jovens. Mas, “a imprensa está tornando invisível o tema de fundo da greve de fome, pois o mais dramático é o que mais pode vender. E alguns meios estão jogando com nossos companheiros, os tratando como animais em um zoológico”. A explicação vem de Matias Villegas, 18 anos, o porta-voz dos estudantes do município de Buin.

A ocupação do colégio A-131, a cerca de 40 minutos de Santiago, rompeu com a invisibilidade também da pequena região. Acostumados a acompanhar as mobilizações no centro da capital chilena, a imprensa hoje faz fila para entrar na pequena sala de aula onde estão vivendo as três meninas e os dois meninos grevistas. Na porta desde as primeiras horas da manhã, os pais acompanham a entrada das pessoas no colégio e, em algum caso imprevisto, convocam a Matias. Um político chamado de “populista” por uma das mães teve seu caminho interrompido quando se aproximava do colégio, enquanto estudantes universitários entraram com instrumentos musicais para prestar sua solidariedade.

“Fizemos mobilizações, marchas pelas ruas, ocupações de colégios e não tivemos resposta do governo. Fizemos uma assembléia e tomamos uma medida muito extrema e tiramos a posição bem clara de fazer uma greve de fome”, disse Daniel Ortega. Como explica o jovem de 18 anos que completa 38 dias sem comer nesta quarta (24), as decisões, inclusive a greve de fome, são tomadas coletivamente e com objetivos definidos.

O drama é alimentado também pelos efeitos de uma greve de fome no corpo humano, mesmo se interrompida. Questiona-se pela mídia sobre a consciência do gesto desses estudantes. “Estamos bem informados e dispostos a lidar com estas conseqüências”, diz Felipe Sanhueza, companheiro de Daniel desde o início da greve. A sala de aula onde estão é toda preenchida por seus colchões, alguns pertences, cartazes de apoio e distrativos, como a televisão onde se assistem pela noite.

Fabiola Mesquim de 17 anos e Francia Gárate de 18 anos entraram a 5 e 8 dias em greve respectivamente, em apoio aos demais. Kamila Rubilar, também de 17 anos, acabara de ser levada ao hospital, como outros dois que tiveram que voltar a comer. Com mais cartazes de apoio aos estudantes e reivindicando melhorias na saúde do país, a pequena enfermaria está abrigando Gloria Negrete. A menina de 19 anos tem o pior estado de saúde de todos eles, inclusive já com ameaças de não poder mais ter filhos.

Na porta do hospital sua mãe pede para um professor do colégio tentar lhe convencer de terminar a greve. “Ela já demonstrou ser uma mulher muito corajosa e especial. Mas precisa entender que esta é uma luta de longo prazo”, diz a mãe preocupada a previsão com a contagem regressiva de 15 a 20 dias de vida prevista pelos médicos.

Depois da reunião dos demais estudantes com Glória, ela manteve sua posição de permanecer sem comer. Entre visitas de uma ex-professora do colégio e a governadora da região (que lhe fez propostas política na esfera municipal), o movimento segue aumentando nacionalmente.

E Piñera com isso?

A paralisação nacional convocada por mais de 80 entidades sindicais, estudantis e movimentos sociais, iniciou na manhã desta quarta (24) sob protestos espalhados pelo país. Só em uma cidade chamada Puerto Montt, por exemplo, 12 mil pessoas fizeram uma marcha. Fato que se repetiu em Concepción e Iquique.

Em Santiago, os protestos foram mais diversificados. Barricadas foram montadas em grandes avenidas e logo reprimidas pela polícia. Na porta da Faculdade de Urbanismo e Arquitetura, da Universidade do Chile, um dos conflitos mais graves, com bombas, spray de pimenta e jatos de água sobre os manifestantes.

Pela noite o movimento apresentará um balanço prévio e reforçará as marchas que se concentrarão no centro da cidade na quinta-feira. O presidente do Chile, Sebastián Piñera, questionou durante a inauguração de programas sociais, “como não achar absurdo que quando a imensa maioria dos chilenos quer viver em paz, trabalhar em paz, e quer progredir, uns poucos estão buscando justamente o contrário: paralisar o país, destruir a propriedade privada, destruir a propriedade pública, incendiar os estabelecimentos e as ruas?”

Num tom bastante agressivo, o presidente também questionou como irão reagir esses setores quando as conseqüências da crise econômica mundial chegarem ao Chile, já que, segundo ele, “o Chile está protegido mas não está blindado como se dizia antes”. O ministro dos transportes e a Intendência (que define os percursos das marchas) também fizeram entrevistas coletivas tentando isolar os manifestantes. E o povo chileno se move para fazer dos protestos estudantis um movimento maior de enfrentamento ao neoliberalismo no país.

 

* Na tarde desta quarta-feira (24) os estudantes que estavam em greve de fome no colégio de Buin decidiram coletivamente a interromper. Em estado de saúde muito debilitado, os estudantes criticaram o presidente Sebastián Piñera, pela falta de respostas ao movimento. "Seguimos lutando, marchando pelas ruas e quando saírmos vamos estar de pé, e nossa luta não vai acabar, não podemos deixar que um governo nos engane. Somos os estudantes e necessitamos de algo de qualidade", disse Gloria, ao portal chileno El Mostrador.

Fonte: Fábio Nassif – Caros Amigos

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