Na manhã de sexta-feira (21), a estudante de Pedagogia Mell Gabrielle Lisboa, de 23 anos, morreu depois de ser atacada pelo ex-namorado, que não aceitava o fim do relacionamento. Mell era estagiária em uma escola da rede municipal de ensino de Curitiba e representava a esperança de construção de um futuro melhor para a educação. Ela era uma futura colega de profissão, agora brutalmente silenciada pela violência de gênero.
Dois dias antes, em um episódio semelhante, uma vendedora foi assassinada no centro da cidade por um homem que alegava ter um relacionamento com ela. À primeira vista, esses casos podem parecer desconectados, já que ocorreram em momentos diferentes e em contextos distintos. No entanto, são parte de uma realidade alarmante e intrinsecamente interligada: a crescente onda de violência contra as mulheres no Brasil e, em especial, no Paraná.
A cada ano, centenas de mulheres são agredidas ou mortas simplesmente por serem mulheres, e as estatísticas são assustadoras. Apenas no estado do Paraná, os casos de feminicídio cresceram 20% entre setembro de 2023 e setembro de 2024, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública.
Em 2024, a Central de Atendimento à Mulher — Ligue 180 registrou um aumento de 34,7% nos atendimentos no nosso estado.
Esses números nos gritam a urgência da questão: a imensa maioria dos casos de violência e feminicídio envolve pessoas próximas das vítimas. E isso está diretamente ligado violência de gênero.
Esse sentimento de posse, profundamente enraizado na cultura machista, se manifesta de diversas maneiras no cotidiano. E é impulsionado por agentes políticos que incentivam esse tipo de violência.
Quando alguém diz que contratar “mulheres é problema” porque elas engravidam, ou que ter uma filha mulher é um sinal de fraqueza (uma “fraquejada”), está, na verdade, promovendo a desvalorização da mulher. O resultado é a transformação da mulher em um objeto de menor valor, sem autonomia, voz ou direito a viver pelas próprias escolhas.
E quando setores da sociedade e da política atacam a luta das mulheres por igualdade, estão, na verdade, contribuindo para manter o ciclo de violência.
A Câmara Municipal de Curitiba, por exemplo, fez um desserviço à sociedade ao aprovar uma moção de protesto da bancada extremista contra uma resolução do Conselho Nacional de Educação que instava os sistemas de ensino a implementar diretrizes e ações comprometidas com “o reconhecimento e a valorização da igualdade de gênero e o combate às diferentes formas de discriminação e manifestações de preconceito que hierarquizam meninas e meninos, homens e mulheres”.
E é justamente essa hierarquização que faz com que muitos homens acreditem estar em um patamar superior às mulheres e, por isso, a vida delas, suas vontades e pensamentos, para eles, têm menos valor. A violência de gênero é uma consequência direta da falta de igualdade e do desprezo pela vida e pela dignidade feminina.
Em vez de implementar medidas eficazes e políticas públicas para a inclusão de educação sobre a equidade de gênero em todos os níveis de ensino, a sociedade está sendo conduzida pelo caminho contrário. E o resultado está aí, comprovado pelos números. Mais mulheres estão sendo violentadas, agredidas e assassinadas. Não é coincidência.
É fundamental que a sociedade se mobilize, não apenas em luto, mas em ação. Precisamos de uma mudança cultural profunda que reafirme o valor da vida das mulheres e promova o respeito e a igualdade. Somente assim, poderemos sonhar com um futuro livre de violência, onde mulheres possam viver plenamente, sem medo e sem opressão.
O SISMMAC se solidariza com as colegas e familiares de Mell Gabrielle, e reafirma seu compromisso com a luta contra todas as formas de violência de gênero.