As cenas chocantes de escolas alagadas em Curitiba nesta terça-feira (18) não são novidade para quem há anos vivencia o descaso do poder público. Uma dessas escolas, que mostramos ontem, sofre com alagamentos recorrentes, um problema amplamente conhecido pela Prefeitura de Curitiba, que há anos se omite em implementar uma solução definitiva.
O resultado dessa negligência são riscos graves à vida e à saúde de trabalhadores e trabalhadoras da educação e das crianças, que tiveram que ser carregadas pela equipe da escola porque a Defesa Civil demorou a chegar ao local.
As enchentes não são apenas um transtorno, mas um perigo real. A exposição à água contaminada pode transmitir doenças como leptospirose, hepatite A, infecções gastrointestinais e dermatites. Além disso, há o risco de choque elétrico e desabamentos, que podem resultar em tragédias irreversíveis. A Prefeitura de Curitiba não pode mais negligenciar o bem mais precioso que existe: a vida das pessoas.
A administração municipal pode até continuar tentando fazer parecer que essas situações são eventos isolados, mas quem está na rede sabe que elas são resultado de um abandono estrutural (e proposital) das escolas e de uma cidade que não está preparada para lidar com eventos climáticos.
Enquanto tapa o sol com a peneira e empurra com a barriga problemas estruturais da rede municipal de ensino, a Prefeitura opta por soluções paliativas, como o recente projeto de vouchers para a compra de vagas na rede privada. Essa política não só desvia recursos da educação pública, como também cria uma maquiagem para problemas reais.
Em vez de construir novas unidades e reformar as que já existem, as gestões Greca optaram por precarizar ainda mais a rede municipal, deixando de investir dezenas de milhões de reais dos orçamentos já aprovados pela Câmara Municipal. Sucatear a educação pública foi uma opção política, mas quem sofre as consequências são as comunidades escolares.
A crise climática agrava ainda mais esse cenário. Como alerta o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), eventos climáticos extremos se tornarão cada vez mais frequentes e intensos. Cidades de todo o mundo já implementaram projetos eficazes para lidar com enchentes e alagamentos. Em Xangai, por exemplo, foi desenvolvido um sistema de drenagem urbana sustentável que reduz significativamente os impactos das chuvas intensas. Curitiba, que se orgulha do título de “cidade mais inteligente do mundo”, tem falhado vergonhosamente em aplicar soluções inovadoras e efetivas para minimizar os danos das enchentes. Ontem, isso ficou comprovado.
A administração municipal precisa assumir, de forma urgente, suas responsabilidades e implemente medidas efetivas para proteger trabalhadores e trabalhadoras da educação, estudantes e toda a população da cidade dos impactos da crise climática.
Da mesma forma, os vereadores da cidade também devem cumprir seu papel de representar os anseios da população e fiscalizar a gestão municipal, em vez de gastar tempo e recursos públicos com debates inférteis sobre shows de música e homenagens a presidentes de outros países.
Não podemos aceitar que tragédias anunciadas continuem sendo tratadas com irresponsabilidade ou como fatos isolados, enquanto os recursos públicos são desviados para iniciativas que enfraquecem a rede municipal de ensino.
Além da falta de planejamento urbano adequado para mitigar os impactos das chuvas intensas, é preciso lembrar que o problema dos alagamentos não é recente. Ao longo dos anos, denúncias foram feitas, alertas foram dados, mas a resposta da gestão municipal foi sempre a mesma: omissão e descaso.
A comunidade escolar e os trabalhadores e trabalhadoras da educação não podem continuar expostos a esses riscos. É necessário que o magistério e a população cobrem respostas concretas, que sejam realizados investimentos estruturais urgentes e que a educação pública seja tratada com a seriedade que merece.
Sem isso, novas cenas lamentáveis continuarão a se repetir, colocando em risco a vida e o futuro de milhares de crianças e profissionais da educação.