A violência contra professores no Brasil atingiu níveis alarmantes nos últimos anos, conforme indicam estudos e relatos de professores em todo o país. Essa violência estrutural da sociedade brasileira foi amplificada por narrativas políticas criadas para atacar a educação pública e seus profissionais.
O extremismo, que tem no bolsonarismo sua maior expressão no Brasil, com sua retórica incendiária e disseminação de fakenews, desempenhou um papel central na criação desse ambiente hostil contra educadoras e educadores.
Professoras e professores passaram a ser tratados como bandidos, comparados a traficantes e uma “ameaça” às famílias.
Para entender o que vem acontecendo no nosso país nessa última década, é preciso analisar os múltiplos fatores que contribuíram para esse cenário, e como a desinformação e os discursos de ódio impactam no cotidiano escolar. Somente a partir disso teremos condições de pensar as perspectivas para reverter essa crise.
Cenário alarmante
Os números não deixam dúvidas: os casos de agressões físicas, verbais e simbólicas contra professores cresceram exponencialmente. Uma pesquisa realizada em 2023 pela Nova Escola e o Instituto Ame Sua Mente revelou que 8 em cada 10 educadores sofreram algum tipo de agressão no ambiente escolar, representando um aumento de 20% em relação ao ano anterior.
Além disso, um levantamento global da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) coloca o Brasil entre os países com os índices mais altos de agressões contra professores, índices que foram atualizados nos últimos anos. Estamos colhendo o que foi plantado nos últimos 10 anos, especialmente a partir de 2016.
O papel das fakenews na criação do clima de violência
A educação pública se tornou um dos alvos preferenciais de campanhas de desinformação. As fakenews, frequentemente compartilhadas por lideranças bolsonaristas, alimentam o imaginário de que professores são “doutrinadores” ou “inimigos da família”.
Narrativas que distorcem o trabalho pedagógico criam uma desconfiança generalizada em relação ao sistema educacional e incentivam ações violentas contra docentes.
Nada disso é por acaso. Um dos papeis mais importantes da educação é ajudar as pessoas a desenvolver o pensamento crítico, para que sejam capazes de questionar, contradizer e não se sujeitar às formas tradicionais de dominação (de classe social, gênero etc).
Via de regra, o extremismo se desenvolve em espaços onde há pouca capacidade ou disposição à reflexão, pouca análise crítica e pouca empatia. E não há outro espaço na sociedade onde esses elementos são mais elaborados do que no meio educacional, em todos os níveis. É por isso que extremistas odeiam a educação.
Na prática, se um extremista parar para refletir criticamente sobre a origem de “seus” pensamentos e quais as verdadeiras intenções de quem o estimula ao radicalismo, ele passará a questionar suas próprias atitudes. Esse é o primeiro passo para abandonar o extremismo político.
Episódios como o recente ataque do “homem-bomba” em Brasília, que se suicidou acreditando que seu gesto “salvaria” o país, é um caso emblemático, porque aqueles que o estimularam, incentivaram e o convenceram a fazer aquilo, são justamente os agentes políticos que nunca amarrariam uma bomba na cintura. Pelo contrário, eles seguem aproveitando os frutos e os benefícios da vida política, enquanto continuam disseminando mentiras e ódio em larga escala para receber votos nas eleições e likes em suas redes sociais.
Cada vez que um militante extremista comete um crime político, um estudante agride uma professora ou alguém radicalizado ataca uma escola, causando mortos e feridos, eles comemoram.
Esses atos não são isolados. Eles se alimentam de um clima de polarização e radicalização que encontrou terreno fértil com o crescimento do bolsonarismo, com mentiras que, além de deslegitimar o trabalho das professoras e dos professores, também incentivam comportamentos agressivos por parte de pais, alunos e até mesmo de colegas.
Um caso específico, que necessitou da intervenção do SISMMAC, ilustra como essas dinâmicas se manifestam no cotidiano escolar.
Profissional do magistério é agredida em Curitiba
Um exemplo marcante da violência enfrentada por profissionais da educação ocorreu em uma escola de Curitiba, onde uma profissional do magistério foi atacada por uma mãe de aluno. O caso, acompanhado de perto pelo SISMMAC, evidencia como a violência extrapola o ambiente escolar e exige medidas urgentes para garantir a segurança dos docentes.
O SISMMAC prestou todo o apoio ao profissional, desde a orientação para a realização do exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML), essencial para consolidar a denúncia, até o acompanhamento jurídico durante a audiência. Graças a essas ações, foi obtida uma decisão judicial que proibiu a agressora de ingressar na escola e de manter qualquer contato com uma educadora.
Além disso, a agressora foi condenada a prestar serviços comunitários como pena pela agressão. Embora essa resolução represente uma vitória judicial, o caso serve de alerta para a necessidade de medidas preventivas que garantam um ambiente de trabalho seguro e digno para os profissionais da educação.
Esse episódio reflete não apenas a vulnerabilidade dos professores diante de situações de violência, mas também a importância de ações coletivas e do apoio jurídico do sindicato para enfrentar tais situações. Casos como este reforçam o apelo por políticas públicas eficazes e pelo combate às narrativas que alimentam a hostilidade contra os educadores.
Violência institucionalizada e seus reflexos no cotidiano escolar
A violência contra professores é um reflexo direto de uma sociedade que normaliza o desrespeito e a agressão como formas de resolver conflitos. Esse ambiente é alimentado também por políticas públicas insuficientes para proteger os profissionais da educação e pela falta de investimentos que garantam condições dignas de trabalho.
As professoras e os professores enfrentam não apenas a violência física e verbal, mas também a pressão psicológica de um sistema que os desvaloriza e, muitas vezes, abandona educadoras e educadores à própria sorte.
Além disso, a liberação descontrolada de armas, defendida por setores extremistas como suposta “solução” para a insegurança, só aumenta o risco de tragédias. O fortalecimento de uma cultura armamentista vai na contramão do que os especialistas recomendam para criar ambientes escolares seguros e propícios à aprendizagem.
O caso acompanhado pelo SISMMAC exemplifica as várias camadas de violência enfrentadas pela nossa categoria. Isso amplia a sensação de vulnerabilidade física e emocional, especialmente sem o respaldo efetivo das instituições.
O papel do SISMMAC na defesa da educação pública e dos professores
O SISMMAC tem se posicionado firmemente contra a violência e os ataques direcionados às profissionais da educação. Diante da escalada de violência, o sindicato acompanha os casos, denuncia agressões e promove campanhas para valorizar a educação pública.
Um dos focos do sindicato é combater as narrativas falsas que colocam os professores como inimigos da sociedade. Isso inclui o enfrentamento das fakenews e o fortalecimento do diálogo com as comunidades escolares para reconstruir relações de confiança.
Para isso, o SISMMAC tem buscado diálogo com a categoria, inclusive com aqueles que podem não perceber o impacto que essas narrativas extremistas têm sobre sua própria segurança. É necessário unir o magistério em torno de um objetivo comum: a valorização de quem atua na educação pública.
As raízes da violência e o caminho para sua superação
A violência contra professoras e professores não é um ato isolado, mas parte de um ciclo mais amplo de violência estrutural que vem marcando a sociedade brasileira na última década. Para romper esse ciclo, é fundamental investir em educação de qualidade, combater a desinformação e promover políticas públicas que protejam os educadores.
Além disso, é necessário enfrentar uma cultura de ódio disseminada por lideranças políticas irresponsáveis. Isso passa por responsabilizar judicialmente e criminalmente aqueles que promovem fakenews e discursos de ódio.
O caso acompanhado pelo SISMMAC serve como um chamado para que o magistério, gestores e sociedade em geral reconheçam a gravidade da violência contra quem trabalha na educação.
Uma luta por dignidade e segurança
Proteger os professores é proteger o futuro do Brasil. Não há democracia sem uma educação pública forte, e não há educação pública forte sem o reconhecimento e a valorização dos seus profissionais. O SISMMAC reafirma seu compromisso com essa luta e convoca toda a sociedade para se engajar na defesa do magistério e da escola pública.
A violência não pode ser normalizada, e é dever de todos agir para garantir que as escolas sejam espaços de aprendizagem, respeito e construção de um futuro melhor.
Em caso de violência, o SISMMAC está aqui para acompanhar e tomar as medidas cabíveis em cada situação.
Fonte: Sismmac