Confira a posição dos Sindicatos de Curitiba sobre a EAD

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O SISMMAC e o SISMUC se reuniram para propor uma discussão a respeito da Educação à Distância (EAD) imposta pela Prefeitura de Curitiba em meio à pandemia de Coronavírus, sem diálogo com as entidades sindicais, direções das escolas e pais dos alunos. Confira as perguntas e respostas que representam a síntese desse debate e participe dessa discussão.

Por que somos contra a EAD como substituto de aulas presenciais?

Educação se desenvolve através dos vínculos sociais presenciais. Nos educamos e educamos os outros por meio dessa interação social. A EAD quebra esse princípio essencial de relação humana: professor/aluno, aluno/aluno, funcionários/aluno, trabalhadores da educação entre si e da escola como um todo com a comunidade atendida. A EAD promove transmissão de conteúdos de forma unilateral e empobrece o trabalho pedagógico e o processo de aprendizagem do aluno quando substitui aulas presenciais. Abre também um caminho perigoso para substituição gradativa de professores presenciais por ensino virtual.

Por que a EAD no ensino fundamental I é tão grave?

As crianças dos anos iniciais do ensino fundamental ainda não desenvolveram minimamente sua autonomia pedagógica e precisam da referência e convivência para o aprendizado. Além disso, nesse momento, muito mais do que nas etapas posteriores, o vínculo afetivo é essencial para que a aprendizagem ocorra. A infância é um momento especial da formação da personalidade humana, neste sentido, a afetividade e o acompanhamento aproximado do adulto responsável pelo processo de ensino-aprendizagem são fundamentais para o desenvolvimento infantil.

A gestão Greca, ao propor a EAD para o pré e a primeira etapa do ensino fundamental (1º ao 5º ano) vincula essa oferta à reposição da carga horária de 800 horas anuais, desconsiderando todo o conhecimento acumulado com relação ao atendimento das crianças pequenas. Isso para não citar a educação especial que tem sido totalmente ignorada até agora pela Secretaria Municipal de Educação (SME).

Atividades complementares servirão como conteúdo ou entretenimento?

Mesmo que de forma complementar, a EAD é uma porta de entrada para a desumanização do processo de ensino-aprendizagem na escola pública. Quanto menos vivência consciente e interação social o ser humano tiver, menos ele questionará e mais ele reproduzirá a realidade desigual em que vivemos. Uma parte significativa dos alunos da rede pública tem na escola muito mais um amparo para a segurança social, alimentação e higiene do que um apreço consciente do aprendizado disponibilizado por aquele espaço, embora esse aprendizado seja perseguido como o grande objetivo da escola.

A EAD não atinge todos os alunos. Muitos estudantes não têm o que comer em casa, quem dirá acesso aos meios de comunicação. Assim, a EAD é muito mais uma forma de possibilitar para uma determinada parcela da comunidade escolar a possibilidade de entretenimento disfarçado de conhecimento. Dessa forma, a educação à distância para o ensino fundamental não é para TODOS e, se não é para todos, não deveria ser considerada parte de reposição de carga horária letiva. Além disso, é também questionável o gasto de verbas por parte da SME para isso.

Por que o acesso à EAD é tão fomentado?

Muito antes da pandemia, a EAD já era um grande negócio, que se expandiu no ensino superior e médio e garantiu formação aligeirada e pouco crítica para muitos de nossa classe, além de abrir um nicho de mercado muito lucrativo para os empresários da educação. Hoje, a maioria dos cursos superiores para formação de professores é à distância. Avançar a EAD para a educação básica é algo necessário para os grandes empresários, em especial em momentos de crise.

A manutenção das 800 horas no calendário pela Medida Provisória 934/2020 força as redes particulares e também as públicas a buscar tentativas de ampliar o número de horas a ser cumprido sem abrir mão do currículo inchado e centralizado imposto pela Base Nacional Comum Curricular. Garantirão, assim, o controle dos conteúdos e, consequentemente, do que ocorre nas escolas e o que os alunos devem ou não aprender, e conseguirão, de forma mais direta, controlar o professor em sala de aula. Por isso, diante da gravidade da pandemia e suas consequências, devemos defender uma flexibilização dessas 800 horas, assim como já tivemos com os 200 dias letivos.

Por que suspender o Calendário Letivo de 2020?

Todos falam que a vida é o mais importante, mas na hora de fazer isso valer na prática, as tratativas são diferentes. É obvia a inviabilização da execução dos 200 dias letivos, assim como deveria ser também o cumprimento das 800 horas no ensino regular. Para que, de fato, o processo de aprendizagem ocorra, deveríamos coletivamente como educadores buscar uma solução alternativa para a realidade frente à pandemia. Uma Olimpíada foi cancelada, eventos de todos os tipos e tradições foram revistos e, no campo da educação, resistimos a aceitar a revisão do currículo e do ano letivo devido a uma prática conteudista que não garantirá uma educação de qualidade. A Prefeitura de Curitiba embarca nessa mesma lógica quando vincula a reposição de horas com a EAD sem ainda haver uma determinação nacional sobre como poderá se realizar a tal reposição de aulas.

Quais outras possibilidades para reposição do ano letivo?

– Suspensão do calendário letivo de 2020 com manutenção de todos os contratos de trabalho.

– Flexibilização das 800 horas como já foi feito para os 200 dias letivos.

– Trabalhos impressos realizados pós suspensão das aulas e outras alternativas presenciais.

– Ampliação do trabalho de apoio pedagógico em horários de contraturno.

– Convocar organização dos trabalhadores da educação (sindicatos), direções de escolas e representantes de pais de alunos para construir uma proposta de reposição que priorize a qualidade do trabalho pedagógico, do processo de aprendizagem dos alunos e não o cumprimento burocrático da quantidade de horas estabelecidas diante de uma pandemia mundial.

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