BRASIL DA FATO: Na manhã desta segunda-feira (6), cerca de 600 homens do Exército cercaram a Assembleia Legislativa da Bahia onde estão concentrados os policiais militares que realizam uma greve no estado desde a última terça-feira (31).
Em torno de 200 pessoas ocupam o prédio da AL, entre policiais e familiares, incluindo mulheres e crianças. Outros grevistas permanecem do lado de fora do prédio e são impedidos pelo Exército de entrar no local.
O objetivo do cerco montado pelos homens do Exército é garantir que a Polícia Federal cumpra os 11 mandados de prisão emitidos pela Justiça baiana contra líderes do movimento grevista. A Justiça decretou a ilegalidade do movimento e expediu 12 mandados de prisão. O primeiro foi cumprido na madrugada de domingo (5). O policial Alvin Silva foi preso e encaminhado para a Polícia do Exército sob a acusação de formação de quadrilha e roubo de patrimônio público (viaturas). O policial também vai passar por um processo administrativo na própria corporação.
A desocupação do prédio foi pedida neste domingo pelo presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Marcelo Nilo (PSDB). Durante uma entrevista coletiva, Nilo disse que não admite que a AL seja usada para “abrigar fugitivos da Justiça com mandado de prisão em aberto” e pediu a desocupação do prédio até a meia-noite do domingo para que o expediente da Casa começasse normalmente na manhã desta segunda-feira. No entanto, isso não aconteceu.
Na manhã de hoje, um grupo de policiais tentou se juntar aos grevistas no interior do prédio da AL, mas foi reprimido pelos militares com balas de borracha e gás de pimenta. Apenas um policial conseguiu furar o bloqueio e entrou no prédio.
Os policiais militares disseram que irão resistir de forma pacífica a uma eventual tentativa de desocupação do prédio. A energia elétrica do local foi cortada na noite deste domingo. Os PMs pedem a incorporação de gratificações nos salários, que seriam recebidas em parcelas, anistia administrativa e revogação das prisões dos 12 líderes do movimento. O governo, por sua vez, ofereceu 6,5% de reajuste para todas as categorias da Polícia Militar, com pagamento retroativo ao mês de janeiro de 2012, sem a anistia aos policiais que tiveram pedido de prisão preventiva decretado pela Justiça. A proposta foi negada pelos policiais militares.
Cinco associações da Polícia Militar (PM) baiana divulgaram, na noite da sexta-feira (03), uma nota em que manifestam repúdio a “qualquer forma de resolução violenta que ponha em risco a integridade física e a vida de qualquer policial militar ou de qualquer outro cidadão”, e caso isto ocorra, se afastarão imediatamente do processo de negociação, responsabilizando o governo do Estado por todo e qualquer incidente que acontecer.
A estimativa do governo baiano é que um terço (pouco mais de 10 mil policiais) do efetivo total da Polícia Militar tenha aderido à greve. O governador Jaques Wagner (PT) afirmou que os métodos usados por uma parte dos grevistas são "coisa de bandido", e disse que não vai ter negociação e anistia a esses policiais.
Segundo Wagner, a greve na Bahia está sendo orquestrada nacionalmente para pressionar a aprovação da PEC 300/2008. Inicialmente a proposta, que tramita na Câmara dos Deputados, defendia que os salários mínimos dos policiais militares de todos os estados fossem igualados ao do Distrito Federal, que é de R$ 3.031,38. Durante sua tramitação, no entanto, a PEC sofreu alterações e, de acordo com o texto atual, deverá ser estipulado um piso nacional, cujo valor será definido por uma lei federal num prazo máximo de 180 dias após sua publicação. O salário-base dos policiais militares da Bahia é de R$ 2.300, incluindo uma gratificação.
Informações dão conta de que, desde o início da greve, cerca de 93 homicídios ocorreram na região metropolitana de Salvador. Sendo que 32 ocorreram só na sexta-feira. Na semana anterior à greve dos policiais militares, foram registrados 52 homicídios na cidade.
Por ordem do governo federal, mais de 2,5 mil homens das Forças Armadas e da Força Nacional foram encaminhados ao estado para atuar no patrulhamento de Salvador, Feira de Santana, Barreiras e Paulo Afonso. O grupo conta também com quatro veículos de combate Urutu, que já circulam por Salvador e apoio aéreo.
Autoria: Redação do Jornal Brasil de Fato