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Ato nacional em defesa do Pinheirinho reúne quatro mil pessoas em São José dos Campos

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“Quem luta, não está sozinho. Somos todos Pinheirinho!”. Gritos como esse ecoaram por toda a cidade de São José dos Campos (SP) nesta quinta-feira, dia 2, durante o Ato Nacional em Solidariedade ao Pinheirinho. Eram centenas de vozes de trabalhadores protestando contra o massacre cometido pelo Estado no último mês: entidades de movimentos sociais, sindicatos, movimento estudantil, moradores da região e delegações de todo o país, incluindo Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Também estavam presentes no ato muitos dos próprios moradores do Pinheirinho, que foram desalojados violentamente no dia 22 de janeiro, em pleno domingo, durante a madrugada.

Cerca de quatro mil pessoas se concentraram na Praça Afonso Pena a partir das 9 horas, onde foram realizados discursos de diversas entidades antes da passeata que passou pelas principais ruas do centro da cidade.

“O ataque ao Pinheirinho não é somente um ataque a moradores de uma ocupação urbana. O ataque ao Pinheirinho é um ataque ao conjunto da classe trabalhadora. E por isso é importante a presença massiva do movimento sindical, do movimento popular, do movimento estudantil para representar a nossa classe”, discursou Guilherme Boulos, membro do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), no início do ato.

SISMMAC junto na luta por Pinheirinho

Alguns dos dirigentes do SISMMAC passaram o dia em São José dos Campos e participaram do ato nacional. Andressa Fochesatto, da diretoria do Sindicato, lembra que o que aconteceu em São José dos Campos não é um fato isolado e acontece inclusive em Curitiba, portanto é necessário participar dessa luta.  “Nós, professores, temos contato com famílias em situação irregular que precisam de moradia. Assim como lutamos pela qualidade da educação, compreendendo que esse é um direito dos trabalhadores e de seus filhos, devemos lutar por moradia que também é um direito constantemente negado aos trabalhadores em prol dos interesses da especulação imobiliária”.

O ato nacional realizado em São José dos Campos é um exemplo da importância da solidariedade de classe. A luta da ocupação Pinheirinho atravessou os limites das categorias profissionais e das diferenças geográficas, colocando trabalhadores de todo o país em um movimento ativo de apoio e solidariedade. Depois da manifestação, os membros do SISMMAC visitaram o terreno do Pinheirinho e participaram de uma doação de caixas de leite no local onde os moradores removidos estão abrigados.

Continuidade da Luta

Além de demonstrar solidariedade, manifestantes de todo o país se somaram à luta dos moradores do Pinheirinho com o objetivo de fortalecer a mobilização pela punição dos atos de violência praticados na desocupação e para reconstruir o que foi destruído. Os moradores querem a desapropriação imediata do terreno – que pertence ao especulador Naji Nahas, condenado por lavagem de dinheiro e corrupção – para a construção de moradia digna aos que foram expulsos de suas casas.

O metalúrgico Mané Melato, militante da Intersindical, defendeu a importância de que os trabalhadores rejeitem a violência cometida pelo Estado contra o Pinheirinho e se organizam para fazer frente a esse ataque. Para ele, a população não pode ser tratada da maneira como ocorreu na ocupação e a classe trabalhadora demonstra sua disposição de ir à luta se reunindo em protesto em São José dos Campos e no resto do país. “Para enfrentar essa truculência, o movimento sindical estará junto para recuperar o Pinheirinho”, afirmou.

Insegurança com o futuro

Maria Neide Teixeira, 51, trabalhava com reciclagem até a desocupação. Como seus instrumentos de trabalho e material para reciclagem ficaram no Pinheirinho, ela não tem previsão de quando poderá retornar à ativa. “Eu tinha criação de boi, galinha, porco, pato. Perdemos tudo. Nem os documentos conseguimos pegar”, conta ela, que vivia com o marido.

Ao contrário da maior parte de desalojados do Pinheirinho, no entanto, Maria conseguiu um teto provisório na casa de uma amiga – que passou todo o ato ao lado dela, de mãos dadas. “Lá no Pinheirinho era bom demais, sossegado”, desabafa, lembrando da antiga casa.

Renato Crispim, 42, não teve a mesma sorte de Maria. Ele vivia há oito anos no Pinheirinho com sua mulher e agora está no abrigo fornecido aos desalojados, que está em condição precária. “A situação lá é péssima, tem todos os problemas. A comida é muito ruim, eles servem carne crua pra gente”, conta. “Perdi muita coisa na minha casa pra dar pra um ladrão. Só na minha casa gastei 15 mil. Contando tudo o que eu perdi devia ter uns 20 mil reais”.

Abrigo nada acolhedor

O fim do ato aconteceu em frente à sede da Prefeitura Municipal de São José dos Campos, depois de quatro horas de caminhada. Os manifestantes permaneceram em frente ao local por cerca de duas horas, enquanto entidades faziam criticas à ação do Estado – representado pelo governador Geraldo Alckmin e pelo prefeito Eduardo Cury, ambos do partido PSDB –, que retirou os moradores de suas casas com apoio do poder judiciário, para atender aos interesses da especulação imobiliária. Também foi reafirmada a luta que continuará até que as terras do Pinheirinho sejam desapropriadas pelo governo de Dilma.

Após o ato, o protesto continuou. Muitos dos manifestantes e delegações de todo o país visitaram o terreno do Pinheirinho e o abrigo de condições precárias em que estão os desalojados.

Uma grande quadra de esportes abafada e barracas, área apelidada de “Favela do Cury”, está servindo de habitação provisória para centenas de pessoas, que deverão sair de lá até o dia 27 – mesmo sem ter perspectiva de uma nova casa.

Denúncias

Cassandra Barbosa Teodoro morava há cerca de um ano no Pinheirinho, juntamente com seu marido que estava lá desde o início da ocupação. Grávida de três meses, ela teme perder o bebê por causa das condições precárias do alojamento.

“A comida que tem aqui é estragada, a gente come mistura estragada. Eu mesmo sempre como comida que não desce, fico com diarréia, sendo que estou grávida. Estou com três meses e tenho medo de perder a criança. Quero sair daqui o mais rápido possível, isso aqui não é pra mim não”, diz. “Não é justo eu ficar aqui nervosa com risco de perder o bebê”.

Ela também afirmou que o banheiro está em condições ruins. “O banheiro é sujo, [a Prefeitura] não tem coragem de colocar ninguém pra limpar isso aqui. Parece um chiqueiro”.

Cassandra também contou que as doações são filtradas. As melhores comidas e roupas que chegam de doações nem sempre acabam com os desabrigados. “Só alguns meninos que pegam roupas, pra nós não. Tenho roupas, mas é pouco. As doações não vêm pra todo mundo”.

Veja as fotos do ato nacional realizado em São José dos Campos

 

Confira também as imagens do terreno do Pinheirinho após a desocupação  e a situação precária do abrigo onde os moradores estão alojados.

 

 

Texto e fotos: Stephanie D´Ornelas

 

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