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Greve mais longa da história do magistério completa 30 anos

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Há 30 anos, em abril de 1987, as professoras e professores
de Curitiba construíram a greve mais longa da história da categoria. O
movimento teve início no dia 2 de abril e se estendeu por 40 dias, mesmo com
corte de salário e sob forte ameaça de demissões.

Realizada antes da legalização dos sindicatos no serviço
público, a greve de 1987 é exemplo da luta pela redemocratização e contra o arrocho
salarial que incendiou o país no final dos anos 1980. Com o corte do
salário de abril, o magistério manteve a greve com a organização de empréstimos
e arrecadação de alimentos junto à comunidade.

30 anos da greve de 40 dias

O magistério reivindicava a adoção de um piso de
quatro salários mínimos como forma de recuperar o poder de compra que foi se
desgastando a partir do Plano Cruzado, lançado em 1986.

As perdas causadas pela inflação e pela mudança dos
planos econômicos somavam 61%. A redução significativa do poder de compra
coloca o conjunto da categoria em situação de instabilidade econômica e empurra
as professoras e professores para a luta por reajuste salarial.

Logo no primeiro dia, o movimento conta com a
adesão de 98% das 94 escolas existentes na época. Cerca de 1,5 mil professoras e professores participam da manifestação. A única escola que mantinha o
funcionamento regular resolve aderir à greve na tarde do primeiro dia.

Como já acontecia em outras categorias, a
assembleia elege comissões para organizar o movimento enquanto perdurar a
paralisação. São criadas as comissões de infraestrutura, imprensa, mobilização,
fundo de greve, cultura e comissão jurídica.

Apesar da grande adesão à greve, a Prefeitura se
mantém irredutível e afirma que o município não possui recursos para atender às
reivindicações. O discurso de Roberto
Requião, primeiro prefeito eleito após o golpe militar de 1964, alterna entre o
tom de compreensão ao movimento e de ameaça aos grevistas.

No primeiro dia de paralisação, a Prefeitura lança
uma nota em que afirma que Requião irá levar para Brasília a proposta de que o
governo federal assuma os encargos das folhas de pagamento da educação das
capitais brasileiras, fixando um piso salarial nacional de quatro salários
mínimos. Ao mesmo tempo, o texto cobra o retorno das aulas e ameaça os
professores com a “imediata adoção de medidas administrativas disciplinares
necessárias ao retorno da normalidade”.

No dia 3 de abril, segundo dia de paralisação, a
Prefeitura aumenta o tom da ameaça. Com medo que o movimento cresça e atinja
outros setores do funcionalismo municipal,
o prefeito anuncia que irá demitir os professores que estivessem em estágio
probatório. Em parte, o objetivo da administração é alcançado. A greve dos
servidores municipais da saúde, que tem início no dia 3 de abril, dura apenas
um dia. Entre o magistério, entretanto, a ameaça não surte efeito e a categoria
mantém o movimento.

Início das negociações

A primeira reunião de negociação entre
os professores e o prefeito acontece no dia 7 de abril. No encontro, Requião
reafirma que não irá atender a reivindicação e propõe a criação de um abono
“emergencial” como forma de garantir que nenhum professor receba menos do que 4.200
cruzados, incluindo gratificação e outros benefícios.

A proposta é rejeitada pela categoria em
assembleia. Além de servir apenas como um “tapa-buraco”, a criação do abono é
entendida como um ataque à estrutura da carreira, pois achataria as diferenças
salariais entre os níveis.

Uma nova reunião é realizada entre
representantes do movimento, o prefeito e o governador do estado, Álvaro Dias,
no dia 9 de abril para reivindicar o apoio financeiro do governo estadual, mas
o encontro termina sem qualquer avanço.

Corte de salários

Conforme o movimento cresce, aumentam também as
ameaças. Quando a greve completa 10 dias, a Prefeitura anuncia que não irá
abonar as faltas, o que é entendido pela categoria como uma tentativa de intimidação.

O anúncio oficial de que a administração
iria cortar o pagamento dos salários dos professores é feito no dia 21 de
abril, durante a última reunião de negociação entre o prefeito e a comissão de
negociação do magistério.

Ao invés de intimidar, o anúncio gera
revolta entre os professores e aumenta a disposição de luta da categoria. Com
apitos e panelaço, o magistério vai até a sede da Prefeitura no dia 23 de abril
para protestar contra o corte de salários.

Diante das ameaças e da intransigência
do prefeito, os professores decidem voltar às salas de aula por um dia, no dia
27 de abril, como forma de garantir a manutenção do direito de estabilidade no
emprego. O objetivo da medida era evitar a aplicação do artigo do estatuto do
servidor que caracteriza como abandono de emprego a falta por 30 dias
consecutivos ou 90 dias alternados.

A suspensão do pagamento do salário de
abril não surte o efeito esperado pela Prefeitura. As professoras e professores
resistem e mantém a greve, através da organização de empréstimos e campanha de
arrecadação de alimentos junto à comunidade.

Ameaça de demissão

O próximo passo da administração é ainda mais
autoritário e repressivo. No dia 5 de maio, a Secretaria Municipal de Educação
envia comunicado aos professores, avisando que irá demitir quem não voltar ao
trabalho. Com o objetivo de acabar o movimento, a Prefeitura também ameaça
intervir nas escolas e destituir as direções democraticamente eleitas.

As medidas repressivas adotadas pela administração
para combater a greve dos professores municipais recebem críticas de diversos
setores da sociedade, já que a eleição de um candidato do PMDB, partido que fez
oposição ao regime militar, era entendida por muitos como um marco contra o
autoritarismo da ditadura militar.

Fim da greve

No dia 6 de maio, a categoria avalia o cenário em
assembleia e decide elaborar uma contraproposta com o que considera o mínimo
necessário para voltar às aulas. Eles pedem equiparação salarial com os
professores estaduais até julho e a inclusão no orçamento do próximo ano do
piso de quatro salários mínimos para toda a categoria.

Nos dias 7 e 8 de maio, são realizadas audiências
com o prefeito com a presença de mediadores. Requião diz que não pode atender
as reivindicações e apresenta uma nova contraproposta: reajuste de 20% em julho
(gatilho para recompor a inflação), equiparação com o salário dos professores
estaduais em janeiro, não punição dos grevistas e a liberação dos salários de
abril.

O fim da greve é definido em assembleia, no dia 8
de maio. O magistério decide voltar às aulas, mas mantêm o estado de greve para
que possa continuar cobrando as pautas que não foram atendidas. As aulas são
retomadas no dia 12, depois de 40 dias de paralisação, com a avaliação de que o
movimento fortaleceu a coesão e organização da categoria e que a união e
disposição de lutas foram preservadas apesar das ameaças intensas.

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