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Prefeitura de Curitiba promove a “Ausência Negra” e mostra, na prática, como funciona o racismo estrutural

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Na quarta-feira (15), a Prefeitura de Curitiba realizou um “evento” em celebração ao Mês da Consciência Negra, só que, praticamente, sem pessoas negras.

No vídeo publicado pela administração municipal nas redes sociais, artistas brancos, descalços, tocavam tambores e vestiam roupas típicas de capoeiristas, em uma representação bastante estereotipada. Também há destaque para biscoitos e bonecas de mulheres negras, além da figura de orixás, em uma abordagem que, além de inapropriada, ainda foi bastante reducionista.

Mas os absurdos não param por aí: no fundo, é possível ver uma caravela (navio português que transportava escravos para o Brasil) e um homem negro acorrentado (ou seja, um escravizado sendo torturado). Além de inapropriado, esse tipo de representação imagética é profundamente insensível. São símbolos que evocam um período doloroso da história brasileira, marcado pela escravização e opressão. Em vez de promover uma reflexão sobre o passado e o presente do racismo, essas imagens ajudam a reforçar estereótipos negativos e perpetuar a dor associada a essas memórias.

 

Não é apenas uma “falha”

O mês da Consciência Negra deveria oportunizar a celebração da cultura, a história e as contribuições da população afro-brasileira na sociedade. O SISMMAC, por exemplo, promoveu o Percurso Afro Curitiba, entre outras iniciativas, como forma de promover a luta por igualdade e incentivar o engajamento nas lutas antirracistas. Além disso, o sindicato compõe o Conselho Municipal de Política Étnico-Racial (Comper) e tem seu Coletivo Étnico-racial sempre ativo.

Mas a Prefeitura Municipal de Curitiba optou por gastar mais de R$ 30 mil (segundo apuração do UOL) para uma ação que reforçou ainda mais a prática de racismo estrutural que está fortemente presente em nossa sociedade.

Curitiba, sendo a capital do sul do país com a maior população negra (em torno de 24%, segundo o IBGE), deveria estar na vanguarda da promoção da inclusão e do respeito pela diversidade racial. Eventos como este, no entanto, revelam uma desconexão com as realidades vividas pela comunidade negra, além de um desconhecimento ou desprezo pelas lutas contra o racismo.

Além do mais, a não inclusão de pessoas negras nesse tipo de evento nega a essa parcela da sociedade a oportunidade de representar sua própria cultura e história, perpetuando a marginalização e invisibilidade que historicamente enfrentam.

O racismo estrutural, que se manifesta nesse tipo de prática, é um sistema incrustado nas estruturas sociais, econômicas e políticas, que perpetua desigualdades raciais. Ao ignorar a necessidade de representação adequada e o impacto de símbolos historicamente opressivos, a Prefeitura de Curitiba não apenas deixa de respeitar a importância do Dia da Consciência Negra, mas também contribui para a manutenção de estruturas racistas em nossa cidade.

Por sinal, em Curitiba, o Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, não é feriado. Nada disso é coincidência.

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