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Na mídia: Crescem incertezas para volta às aulas na rede estadual

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A cinco dias da data prevista para o início do ano letivo na rede estadual, as escolas do Paraná ainda não sabem como farão para receber os alunos em sala de aula. A equação complicada é composta por três variáveis: o corte no número de funcionários; a falta de repasses do fundo rotativo (dinheiro destinado à manutenção das escolas e compra de materiais); e o déficit de professores. Enquanto o colapso se acirra, cresce na categoria os rumores de greve.

Na semana passada, a Secretaria de Estado da Educação (Seed) cortou 30% dos funcionários contratados via Processo Seletivo Simplificado (PSS). A medida mandou para casa cerca de três mil servidores que trabalhavam na limpeza e manutenção das escolas, além de alguns funcionários administrativos. A Gazeta do Povo visitou cinco escolas estaduais. Com a redução do quadro, nenhuma delas tem condições de funcionar .

No Colégio Estadual João Loyola, no Pinheirinho, três dos sete funcionários PSS foram demitidos. No Colégio Estadual Tatuquara, o corte atingiu quatro dos dez servidores que atuavam na limpeza e manutenção, e dois da administração. Quem trabalha nas unidades é enfático: não há condições de as escolas abrirem as portas.

“Nem que o diretor coloque uma vassoura na mão de cada professor vai conseguir suprir esse corte”, disse um funcionário do Tatuquara. “Tirar funcionários é abrir a porta das escolas para os traficantes. São esses servidores que mantêm os colégios e criam condições para que as unidades funcionem”, observa um professor que há duas décadas leciona na rede estadual.

As escolas do Paraná padecem, ainda, da falta de dinheiro. Desde outubro, três parcelas do fundo rotativo do ano passado estão atrasadas: duas destinadas a compra de materiais de consumo e uma à manutenção das escolas. O sindicato da categoria, APP-Sindicato, estima que a dívida supere a casa dos R$ 13 milhões. Enquanto isso, colégios estão longe de ter condições ideais .

Na última segunda-feira, o Colégio Beatriz Faria Ansay, no Tatuquara, começou uma obra que se estenderá a todas as salas de aula. Apesar de o prédio ter apenas quatro anos, os pisos estavam se soltando. “Vamos ter que quebrar e trocar tudo. Vai demorar semanas”, diz um dos pedreiros. Enquanto o mato cresce na lateral do prédio, um cartaz afixado no portão avisa: “Escola fechada sem funcionários”.

No Colégio Loyola, parte do muro caiu sobre a quadra, danificando a cobertura. A escola tem 50 anos, mas nunca passou por uma reforma estrutural. Provisoriamente, a direção tenta fechar orçamento para reerguer o muro, mas ainda não há previsão. “Nas salas, tem infiltração, goteira. A estrutura está podre”, afirma um professor. No Colégio Guilherme Pereira Neto, em agosto do ano passado, um vendaval levou a cobertura da quadra. O abandono do anexo é evidenciado pela tabela de basquete, que apodreceu ao léu.

Diretores tiram dinheiro do bolso

O atraso no repasse do fundo rotativo às escolas estaduais chegou a criar situações limite. A Gazeta do Povo ouviu quatro diretores, dos quais três disseram ter tirado dinheiro do bolso para manter as escolas funcionando. Os colégios pelos quais são responsáveis acumulam dívidas e eles precisam justificar pessoalmente a demora no pagamento. “Não tem outra alternativa. A gente calça a cara e negocia. Parece que a caloteira sou eu”, diz a diretora de uma escola de 800 alunos.

Outro diretor diz que o colégio em que ele trabalha deve mais de R$ 3,5 mil a uma única papelaria. Enquanto aguarda receber os R$ 18 mil do fundo rotativo, em parcelas atrasadas, ele recorreu a um empréstimo bancário para providenciar a manutenção do colégio. “A escola estava com problemas no telhado e na parte elétrica, além de precisar capinar. Se eu não fizesse isso, não teria condições de deixar tudo pronto para as aulas, que a gente nem sabe se vão mesmo começar”, diz.

Em outra escola, o diretor lançou mão de recursos próprios para comprar materiais básicos. Eles esperam repor o prejuízo quando receberem do estado o dinheiro atrasado. “Chegou a faltar papel para imprimir documentos e papel higiênico. Não tinha como deixar do jeito que estava”, justifica. “Mas tem colégios maiores, como o Estadual [do Paraná] em que a dívida passa de R$ 270 mil”, acrescenta.

Ontem, a Seed publicou uma nota, informando que seria depositada na conta das escolas a primeira parcela de 2015 da cota de consumo do fundo rotativo. O valor destinado aos colégios seria de R$ 4,2 milhões. A dúvida quanto às parcelas atrasadas permanece. Questionada, a Seed se limitou a dizer que o pagamento seria normalizado, mas não deu detalhes.

Sem prejuízo

A Seed diz que o “ajuste” no número de funcionários não prejudicará as aulas. Na média, um funcionário teria sido cortado por colégio. Antes da redução, 19 mil atuavam nas escolas.

Mutirões e apoio da comunidade ajudam a manter escola

O prédio é alugado e adaptado. Parte das carteiras é de segunda mão – veio de outra escola. Se as condições no Colégio Estadual Tatuquara estão longe de serem as ideais, a comunidade escolar e empresários da região se uniram para contornar as dificuldades. Tem dado certo. A unidade é apontada como um dos bons exemplos da rede estadual.

O prédio foi pintado no ano passado, por meio de um mutirão. A direção pagou pela tinta e professores e alunos puseram mãos à obra: empunharam pincéis e cobriram o edifício de um tom azul escuro. Os uniformes que são entregues aos alunos foram comprados por um conjunto de empresas. A iniciativa privada também banca materiais escolares e pequenos reparos. Os empresários chegaram a pagar uma festa de fim de ano, em que todos os alunos ganharam presentes.

“Essa parceria surgiu da iniciativa da comunidade escolar. O pai de um aluno trabalha em uma empresa, que foi a primeira a ajudar. Hoje, tem até uma empresa de São Paulo que nos apoia. Antes, os pais não queriam matricular os filhos aqui. Agora, tem até fila de espera”, conta um servidor.

Atraso na contratação de temporários angustia escolas

Só ontem o governador Beto Richa (PSDB) autorizou a contratação de 10 mil professores temporários, aprovados em Processo Seletivo Simplificado (PSS). Se tudo correr bem, eles só saberão em que escola vão lecionar na sexta-feira. No cenário mais positivo, eles vão assumir as aulas sem terem passado pela semana pedagógica, em que cada colégio define seu planejamento anual.

O atraso no cronograma provocou angústias e incertezas na comunidade escolar. No Colégio Guilherme Pereira Neto, apenas 10% dos professores são efetivos. No Colégio Tatuquara, o índice é de 15%. Ou seja, as escolas dependem de forma maciça dos PSSs. “Não tem mágica: não se contrata num dia e no outro eles estão na sala. Tem um processo, tem documentação. Vai ser impossível que esses professores estejam na sala de aula no dia 9 [de fevereiro]”, disse um diretor.

Para a APP-Sindicato, a contratação de 10 mil professores PSS é insuficiente e vai faltar docentes nas salas. A entidade estima que, além desses, seriam necessários outros cinco mil temporários pare fechar a conta.

No ano passado, 29 mil professores temporários lecionaram na rede estadual. Para este ano, o governo anunciou a contratação de 5,4 mil efetivos. Outros 600 que faziam serviços administrativos na secretaria e nos núcleos de educação devem ir para as salas de aula.

Possibilidade de greve ganha força no estado

Professores, funcionários e diretores de escolas foram às ruas ontem em diversas cidades do Paraná. Manifestaram-se contra atrasos no pagamento do terço de férias e da rescisão dos PSSs, contra o corte de funcionários e a demora na definição da contratação dos professores temporários. Em meio ao descontentamento, a proposta de greve ganha corpo.

“Do jeito que está, não tem condições. Ou o governo retoma o patamar em que estávamos, ou não temos condições de voltar às salas de aula”, diz a diretora da APP-Sindicato, professora Marlei Fernandes.

No sábado, a categoria se reúne em assembleia, em Guarapuava, no Centro-Sul. Entre os principais itens que serão votados está a possibilidade de a categoria deflagrar greve antes do início do ano letivo (os professores não iriam para a aula na segunda-feira), e a possibilidade de greve após o carnaval. “Se as aulas começarem no dia 9, todos vão ver que, de fato, não há condições.”

“Nem que o diretor coloque uma vassoura na mão de cada professor vai conseguir suprir esse corte”, disse um funcionário do Tatuquara.

“Tirar funcionários é abrir a porta das escolas para os traficantes. São esses servidores que mantêm os colégios e criam condições para que as unidades funcionem”, observa um professor que há duas décadas leciona na rede estadual

Fonte: Gazeta do Povo
 

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