Desmonte sem precedentes da saúde pública agrava crise de Covid-19

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Desde que foi estabelecido pela Constituição de 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) nunca passou por uma crise tão grave de subfinanciamento. E o auge do desmonte chega justamente no momento em que o serviço se mostra mais indispensável, com um acúmulo de contaminações e mortes por causa do novo Coronavírus em todo o país.

Ameaça real em Curitiba – onde o lockdown deveria ser adotado como recurso de controle, não fosse o descompromisso do desgoverno Greca –, o colapso da saúde pública foi tema de uma live organizada na noite desta quarta-feira (22) pelo SISMMAC e SISMUC. A fragilização estrutural das unidades, a falta de EPIs e os limites que prejudicam o atendimento e sobrecarregam os servidores da linha de frente estiveram entre os temas debatidos pela enfermeira da UPA Boqueirão e mestranda em Políticas Públicas da UFPR, Renata Jacobovski, e pelo médico, doutor em Saúde Coletiva e professor da UFPR, Rogério Miranda Gomes. A conversa foi conduzida por denúncias de servidores que deixam ainda mais claro o desmonte da saúde em Curitiba.

Na linha de frente da luta, a enfermeira Renata Jacobovski afirmou que, com a atual estrutura, as UPAs de Curitiba não dão conta de absorver o aumento da demanda gerado pela pandemia. E não sobra só para os pacientes. Os trabalhadores da saúde também sofrem as consequências do aumento da demanda. Os EPIs mais eficientes são priorizados para equipes que trabalham diretamente com casos suspeitos e confirmados, o que deixa de fazer sentido neste cenário em que assintomáticos também podem estar sendo atendidos sem saber da contaminação.

Fora o risco do contágio, que aumenta e muito em condições como essas, servidores da saúde também enfrentam o problema da sobrecarga!

Não é segredo para ninguém que o desgoverno Greca trabalha para diminuir a qualidade do serviço nos equipamentos de saúde, sempre com o lema de precarizar para justificar a terceirização. E a falta de médicos, enfermeiros e técnicos é uma das piores consequências desta prática impiedosa! Na pressa de suprir o quadro defasado, o desprefeito sacrificou a qualidade do atendimento e agravou a rotina já pesada de trabalho dos servidores, que, mesmo em condições de muito medo e pressão, continuam sendo os verdadeiros guerreiros desta luta.

Um retrato do Brasil

O médico e professor da UFPR Rogério Miranda Gomes destacou que a crise sanitáriaque se vive com a pandemia do novo Coronavírus é ainda reflexo do descaso generalizado com as políticas públicas em suas diferentes áreas. No setor da saúde, um sistema subfinanciado e dependente de gestões privadas impediu o país de organizar uma reação eficiente à disseminação do vírus.

A desarticulação da rede de atenção primária e a insuficiência da rede hospitalartambém entraram no debate. Apoio fundamental no acompanhamento de doenças crônicas, o trabalho de atenção básica do SUS poderia, não fosse o seu desmonte total, ter sido um mecanismo importante de controle da Covid-19 com o monitoramento e isolamento da população.

O quadro da rede hospitalar não é mais animador. Faltam leitos de UTIs na saúde pública e sobram na saúde privada, o que reforça a importância de um sistema de regulação pública dos leitos. Para se ter uma ideia, em números gerais o Brasil tem hoje 2 leitos de UTI para cada 10 mil habitantes, mas a conta isolada é bem outra: 1,4 para cada 10 mil no SUS e 4,95 para cada 10 mil assegurados na rede privada.

Lockdown já

O subfinanciamento, a privatização interna e as práticas de gestão privada que precarizam os vínculos trabalhistas no SUS dificultam o controle adequado da pandemia. Além disso, manter a população em casa, e com renda mínima necessária, teria que ser regra em cidades onde ocorre uma ampliação dramática dos quadros de infecção e mortalidade – como é o caso de Curitiba, nesse momento.

Mas ao contrário de determinar o lockdown, urgente e necessário, o desgoverno Greca voltou atrás e liberou na última terça-feira (21) a ampliação do comércio de rua e a volta de atividades em bares, restaurantes, academias e igrejas. Mesmo com a taxa de ocupação nos leitos acima dos 90%, mostrou que seu compromisso não é com a vida, mas com os empresários e suas chantagens egoístas!

Nesse auge da crise em Curitiba e região metropolitana, é fundamental garantir o máximo isolamento. Na live, nossos convidados lembraram que, para evitar a ocupação máxima dos leitos e justificar a retomada das atividades, a Prefeitura vem mantendo pacientes testados positivos com Covid-19 internados nas UPAs por até quatro dias. A prática é uma manobra para subnotificação as internaçõe se também um tremendo desrespeito!

O descompromisso que Greca mostra com a vida da população e com o trabalho dos servidores que enfrentam o perigo de perto não pode ser ignorado. A luta tem que ser mais forte que o descaso!

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