Nota do Sismmar em resposta à Gazeta do Povo

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20180118_sismmar

No dia 9 de janeiro de 2018 o jornal Gazeta do Povo publicou
matéria na qual aponta os salários dos professores de Araucária como os maiores
do estado.

Nós, professores do município, gostaríamos de falar sobre
isso.

O valor pago pelo trabalho é a base para a qualidade de vida
de um trabalhador. Se o salário inicial dos professores de Araucária chama
tanta atenção, precisamos entender o porquê.

Começamos pelo fato de que não foi avaliado na matéria o
custo de vida na cidade de Araucária, que é bem superior ao de Curitiba e
outras cidades da região. Assim, ganha-se mais, mas também gasta-se mais para
sobreviver. Além disso, o professor é um profissional em constante formação, nunca
para de estudar. Para que possa oferecer um ensino melhor aos alunos, precisa
investir nisso. A prefeitura não dá cursos que atendam à essa necessidade. Por
isso, o professor de Araucária gasta do seu salário para poder fazer cursos,
comprar livros, quando não, materiais para a própria escola.

E vamos mais longe: os professores pertencem a uma das
profissões que mais adoece.
Problemas
alérgicos, respiratórios, vocais, emocionais e inflamações nas pernas e nos
braços são os mais comuns. Todas essas doenças são causas das más condições de
trabalho. Não temos um atendimento pela prefeitura
(mesmo estando doentes por
causa das condições de trabalho que ela nos coloca). Assim, boa parte do nosso
salário é gasta em remédios e tratamentos de saúde.

Dito tudo isso, vamos para uma reflexão mais profunda sobre
o que leva um veículo de comunicação a publicar essa matéria.

Os patrões costumam enganar os empregados. Usam de jogo sujo
e manipulações para não dividir os lucros do trabalho com aquele que realmente
o realiza. Frases como “na vida, não é só dinheiro que importa”, “o que importa
é ter saúde ” são repetidas à exaustão para os trabalhadores, mas não para os
patrões.

Passamos mais de 40 horas por semana entre aulas e
planejamentos, com todo o estresse que isso impõe – inclusive nas horas que
deveriam ser de folga. Isso não justifica um salário que corresponde a um terço
do salário inicial de um médico, por exemplo?

Então qual a importância que damos à educação e à formação
das novas gerações?

O que faz pessoas acharem que a remuneração dos professores
araucarienses é muito alta, é simples: o fato é que a média de salários de
todos os trabalhadores é muito baixa.

Não só os professores, mas toda a classe trabalhadora vive
apenas com uma pequena parte daquilo que produz. Os patrões jogam a armadilha:
de colocar um trabalhador contra outro por receber um valor maior. Por que
aceitamos ficar com tão pouco e ainda repetimos as falas da mídia?

Para os meios de comunicação, políticos e empresários, não é
interessante a consciência do povo enquanto classe trabalhadora.

Uma matéria com cara
de neutra, com dados fornecidos pelo próprio secretário de educação do município
não tem nada de ingênua. Busca sim colocar os outros trabalhadores que,
normalmente, têm trabalhos ainda mais cansativos e mal remunerados, contra os
professores que se dedicam na esperança de que os estudantes tenham mais
condições de se defender nessa sociedade injusta.

Há duas classes na sociedade: a dos que trabalham, e a dos
que exploram o trabalho de outros.
No
meio, há uma mídia que manipula, direciona, esconde ou dá ibope à informações
conforme os interesses dos patrões. Mas há também os que estudam a sociedade, e
apontam as possibilidades para as novas gerações, e isso incomoda.

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