Uma a cada oito famílias de Curitiba está na fila da Cohab

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Em outubro de 2008, a PM usou bombas e balas de borracha para fazer a
reintegração de posse de uma área de 170 mil m² que havia sido ocupada
por 1,5 mil famílias na Fazendinha. Nove anos depois, quem passa por
aquele local encontra um terreno baldio, subutilizado. Já os
ex-ocupantes, que deixaram o terreno à força, passaram a integrar uma
estatística reveladora das políticas habitacionais em Curitiba: 58.102
famílias estão na fila por uma casa própria – o que equivale a um 12,5% famílias de Curitiba, ou uma a cada oito.

O número, divulgado pela Companhia de Habitação Popular (Cohab),
coincide com os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) sobre a quantidade de imóveis vazios na cidade:
são 58.327, somando os domicílios vagos e os de uso ocasional. “Muitos
nem estão para alugar. Estão abandonados ou parados, para especulação”,
afirma Fernando Marcelino, integrante do MTST.

Nenhuma das onze páginas do plano de governo do prefeito Rafael Greca
(PMN) contém propostas para democratizar o acesso à moradia. A
Prefeitura informou à reportagem que o assunto deve ser tratado com a
Cohab. A nova diretoria da Cohab, nomeada por Greca, não atendeu às
solicitações de entrevista até o fim desta edição.

Doze anos na fila

A zeladora Doroti Loos, de 65 anos, recebe dois salários mínimos –
cerca de R$ 1.874,00 – por mês. Ela está aposentada por invalidez e vive
na cadeira de rodas. “Faz doze anos que ela está na fila da Cohab,
sempre renovando, e nada”, lamenta a filha, Elisabeth Cristina. “A gente
quer se mudar para ela poder se tratar melhor, mas está difícil. Cohab
não é doação. A gente precisa ter uma renda maior para ter mais
chances”, completa.

O programa Minha Casa, Minha Vida poderia ser uma alternativa, mas
passou a privilegiar os mais ricos após a posse do presidente interino
Michel Temer (PMDB). É o que denuncia, em nota, a Confederação Nacional
das Associações de Moradores (Conam): “Antes, de cada 10 moradias que o
governo apoiava, seis eram para quem ganhasse até R$ 1.800,00 e quatro
para as demais faixas de renda. Agora, de cada 10 moradias, três serão
para os mais pobres e sete para a classe média e os ricos”.

Ocupações urbanas

Cerca de 1,5 mil pessoas vivem hoje em áreas de ocupação, a maior
parte delas localizada na região Sul de Curitiba: Tiradentes, Nova
Primavera, Dona Cida e 29 de março. São moradores que articularam para
sair do aluguel, usar os espaços vazios da cidade e lutar juntos pela
regularização dos imóveis.

O MTST estima que, só em Curitiba, são 20 mil terrenos ociosos, de
diferentes metragens. Segundo Fernando Marcelino, além de construírem
casas maiores e melhores que os demais programas de habitação popular,
os movimentos de ocupação enfrentam resistência porque escancaram as
contradições da chamada “cidade modelo”, projetada para segregar as
classes sociais e manter os trabalhadores distantes do Centro.

Déficit habitacional

Simone Oliveira, de 35 anos, mora com sete filhos em um apartamento
de 44 m² construído pela Cohab em São José dos Pinhais. “A casa onde eu
morava antes não estava no meu nome. Era cedida. Por isso, me tiraram de
lá, demoliram a casa e enfiaram a gente nesse lugar apertado”,
descreve.

A caçula tem seis anos; a mais velha, 17. Mãe solteira, Simone
reclama que a metragem do imóvel é inadequada para a convivência da
família. Essa é uma situação típica de adensamento excessivo, um dos
fatores considerados no cálculo do chamado déficit habitacional – que
também leva em conta domicílios com estrutura física precária e aqueles
que abrigam famílias com dificuldade extrema de quitar o valor do
aluguel.

Segundo dados de 2016 da Fundação João Pinheiro, a região
metropolitana de Curitiba responde por um terço do déficit habitacional
do Paraná, o que equivale a cerca de 84 mil domicílios. Na soma dos
estados do Brasil, o número ultrapassa os seis milhões.

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