Cultura do estupro está ligada ao controle e mercantilização do corpo

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20160601mulher

Na última
quarta-feira (25), uma adolescente de 16 anos teve seu corpo violentado por
mais de 30 homens no Rio de Janeiro e chocou a opinião pública.

O ocorrido
poderia ser tratado como mais uma situação corriqueira, destas que muita gente
banaliza, não fosse a divulgação do vídeo na internet, fato que escandalizou e
fez com que vários órgãos emitissem notas de repúdio.

Desde a Organização das Nações Unidas (ONU), passado pela vice-ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), até o governador do Rio de Janeiro emitiram notas ou deram entrevistas
repudiando a cultura do estupro.

As inúmeras manifestações de solidariedade com a vítima e atos em repúdio ao crime mostram que a luta e a indignação das mulheres trabalhadoras são capazes de colocar a necessidade da superação da violência e da cultura do estupro na ordem do dia.

Entretanto, na maioria dos posicionamentos oficiais, o que vemos é um foco na responsabilização dos autores
do crime e uma preocupação com a punição do fato em si, ou apenas uma
preocupação isolada com a vítima. A maioria das notas e posicionamentos
replicados ignoram ou secundarizam a questão de que todos os dias, em vários
países, mulheres foram e são violentadas sistematicamente e que a estrutura da
sociedade em que vivemos incentiva a cultura do estupro.

A sociedade capitalista e a cultura
do estupro

A
cultura do estupro está diretamente ligada ao aperfeiçoamento de técnicas de
controle do corpo da mulher. A origem da vigilância sobre a liberdade e sobre o corpo feminino está ligada ao surgimento da propriedade privada e do direito de herança. Entretanto, isso se aprofunda na sociedade capitalista e a exposição do corpo feminino se transforma em mercadoria.

São comuns vermos comerciais
de cerveja com mulheres quase nuas, outdoors de comerciais de roupas ou sapatos
com corpos expostos como mercadoria.

Isso significa um aprofundamento das relações
do modo de produção capitalista que elevou ao máximo a contradição presente em
todas as formações econômico-sociais anteriores, assentadas na propriedade
privada dos meios de produção e dos produtos do trabalho humano.

Cada vez mais, os bens necessários à vida são incorporados à lógica capitalista e se transformam em mercadoria. A própria força de trabalho humana também é tratada como uma mercadoria que pode ser vendida e comprada.

Para
além disso, a cultura machista garante para além da mercantilização da força de
trabalho a mercantilização do próprio corpo da mulher, que ao ser exposto e vendido como mercadoria rende muito lucro
aos detentores dos meios de produção.

Essa
mercantilização fomenta a cultura do estupro, em que homens se acham no direito,
ao desejar o corpo de um outro ser humano, investir sobre ele a qualquer custo,
garantindo a satisfação de seus prazeres.

Não
basta criticar o estupro

Diante da realidade social imediata, mulheres
são vítimas de inúmeras violências para além do estupro. Recebem em média 27%
menos que os homens, possuem maior responsabilização pelo trabalho doméstico e
cuidado dos filhos, o que representam uma carga de trabalho semanal de 5 horas a mais que os
homens. Portanto não basta se declarar
contra a cultura do estupro, é preciso lutar todos os dias contra o machismo e
contra o formato social que o alimenta, no momento atual, o capitalismo.

Escandalizar-se pontualmente sobre o caso do
estupro coletivo não é lutar pela emancipação da mulher. Segundo estatísticas,
ocorre um estupro no Brasil a cada 11 minutos. Conforme Mapa da Violência de
2013 dez mulheres são mortas por dia no Brasil. Esses dados se tornam mais
graves se pensarmos que, de acordo a última pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 65% dos entrevistados acreditam que
mulheres que mostram o corpo merecem ser atacadas. Essa opinião fortalece e
justifica a cultura da violência contra a mulher.

Além das mulheres viverem sob a ameaça
psicológica constante de receber uma cantada, ser atacada, violentada e até
mesmo morta, vivem em toda a sua vida uma exploração social a mais que os seus
companheiros homens da mesma classe.

Nós da direção do SISMMAC, não deixamos de
repudiar com veemência a cultura do
estupro, mas entendemos que é preciso ir além disso.

É
preciso lutar para que a sociedade se transforme, é preciso atacar o mal pela
raiz.

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